quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Poesia: Olhos Apaixonados














No fundo dos seus olhos
Eu viajei em sua história
Como se fossem os meus
Vi o que viu com os seus

Senti a mesma alegria ao vê-lo contar
Nem ousava piscar
Para não perder o caminho

Se eu fechasse os olhos
Para imaginar a cena,
Eu não poderia sentir seu olhar
Me falando do mundo,
Mas antes de continuar
Você hesitou com um olhar profundo

Ao ver meus olhos penetrar os seus
Como uma virgem em sua primeira vez
Você também viu o fundo dos meus
Não poderia mais dizer nada
Pois se esqueceu

Como um adulto muito apressado
Que pára ao ver o olhar de uma criança com fome
Você parou ao ver meus olhos de fome
E na brincadeira de olhares
Tudo o que queremos é a boca
Os lábios, a língua, os dentes

As líguas se enroscam
Vão pra cima e pra baixo
De um lado pro outro
Alcançam o céu
Elas dançam incansávelmente

Os lábios se tocam
Fazem o pescoço girar
A mandíbula abrir e fechar
Grudam, desgrudam
Dão bitoquinhas

O gosto não é doce, não é amargo
Tem um sabor indecifrável
Que nem nossos olhos podem sentir,
Mas eles sempre estão a se encontrar
Para que a boca sinta o gosto
Do fundo dos olhos apaixonados


Yvone Delpoio

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