terça-feira, 27 de maio de 2008

Música: Folhetim - Luiza Possi

Se acaso me quiseres
Sou dessas mulheres
Que só dizem sim
Por uma coisa à toa
Uma noitada boa
Um cinema, um botequim

E, se tiveres renda
Aceito uma prenda
Qualquer coisa assim
Como uma pedra falsa
Um sonho de valsa
Ou um corte de cetim

E eu te farei as vontades
Direi meias verdades
Sempre à meia luz
E te farei, vaidoso, supor
Que és o maior e que me possuis

Mas na manhã seguinte
Não conta até vinte
Te afasta de mim
Pois já não vales nada
És página virada
Descartada do meu folhetim

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Poesia: Embriaguez (Yvone Delpoio)













Se eu disser que não estou embriagada
É só mais um jeito para desconversar
Dizer que eu não estou errada
Que a culpa que eu carrego é sua
Quando na verdade a bagagem é toda minha!

Se terminou
Foi porque vacilei
Ao invés de nadar na praia, eu naufraguei
Perdi a direção e me afoguei.
O mar se encheu de lágrimas
(E de álcool também)

É sempre esse jeito que eu termino
As coisas eu liquido
A água, transformo em vinho
E não divido!
Nem deixo pro santo

Veja só meu ponto de vista
Que agora parecem dois...
Já vejo tudo dobrado:
Três copos parecem seis
Isso porque só foi uma
Não uma dose,
Mas uma garrafa de vez

Pra você ver como acabou comigo
Tá, lá vou eu de novo dizer
Que foi você
Lá vou eu de novo sofrer
Por você
Lá vou eu de novo...
Sem você

E pela ausência do corpo
Entorno o copo cheio
Vodca, pinga, rum, tequila,
Cerveja, uísque, vinho, conhaque...
Já não importa o que vem
O fígado já não distingue quem é quem

Apesar de já estar entre suicídio e vício
Agulha? Não é comigo!
Eu gosto mesmo do estado navegante
Já este efeito penetrante é rapidin
Entrou: já tô fora de mim
Não! Não! Isso não é pra mim










Eu gosto de ficar no bar, no botequim
Horas amargurando horas
E com demora!
Só de manhã eu vou embora...
E passo o dia inteiro na cama
Ando de férias da vida agora

Acordo com a sede já pedindo
Preparo meu café da tarde
Poderia ser do tipo inglês
Ou café preto talvez...
Mas acho que esse vinho é francês!
Já faz tanto tempo... Nem lembro
Mas acho que foi naquela viagem que a gente fez

Eu sempre deixo um dedinho
Esperando o resto de nós
Amanhã quem sabe não vem?
Era pro nosso aniversário
4 anos hein?

Mas já está acabando esta caixa
E o dinheiro já me falta
Para viver esse não-viver
Cedo ou tarde terei que voltar
Lembrar que sou gente
Retornar o que está derretendo

Mas só depois do último gole...
Por enquanto aproveito até a mísera gota
Que depois terei que lembrar o que já esqueci
E enfrentar com lucidez esse sóbrio fim



Yvone Delpoio