domingo, 24 de agosto de 2008

Música: O Amor É Feio (Tribalistas)

O amor é feio
tem cara de vício
anda pela estrada
não tem compromisso

O amor é isso
tem cara de bicho
por deixar meu bem
jogado no lixo

O amor é sujo
tem cheiro de mijo
ele mete medo
vou lhe tirar disso

O amor é lindo

O amor é lindo
faz o impossível
o amor é graça
ele dá e passa

O amor é livre

Música: Tô (Tom Zé)

Tô bem de baixo, pra poder subir
Tô bem de cima pra poder cair
Tô dividindo pra poder sobrar
Desperdiçando pra poder faltar
Devagarinho pra poder caber
Bem de leve pra não perdoar
Tô estudando pra saber ignorar
Eu tô aqui comendo para vomitar

Eu tô te explicando pra te confundir,
Eu tô te confundindo pra te esclarecer,
Tô iluminado pra poder cegar,
Tô ficando cego pra poder guiar

Suavemente pra poder rasgar
Com o olho fechado pra te ver melhor
Com alegria pra poder chorar
Desesperado pra ter paciência
Carinhoso pra poder ferir
Lentamente pra não atrasar
Atrás da vida pra poder morrer
Eu tô me despedindo pra poder voltar

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Música: Bloco de Notas - Whiter's Block (Just Jack)

Eu peguei esse bloco de notas
Isso veio quase como um choque
E agora estou paralisado entre um lugar pesado e o maior rock
Na minha própria cabeça esgotada,
Eu sento no meu quarto
É como tempestades da vida,
Ficar confuso na lágrima.
Eu sou como uma borboleta,
Pego num furacão
Meu pulso está acelerando enquanto meu coração toca um novo refrão

Estou amando Mary Jane,
Voando com Lois Lane
Ao bordo de um trem-bala
Não sei se estou contente por vir

Às vezes à noite eu penso tanto
Sobre vida e amor e música e coisas

Eu estou vivendo no passado
Meu relógio está uma hora apressado
Deveria mesmo ir embora e fazer um café, mas estou desanimado
Eu perdi meu celular
Você tem que ligar para minha casa
Pensando bem apenas deixe a mensagem quando ouvir o sinal
Minha janela encardida mostra
O brilho do amanhecer
Outro dia, outro dolar no meu show de um homem só

Estou amando Mary Jane,
Voando com Lois Lane
Ao bordo de um trem-bala
Não sei se estou contente por vir


Eu estou mal com Mary Jane,
Não falo com Lois Lane
E eu perdi aquele trem-bala
Mas agora eu estou contente por vir

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Música: LIsten Up! (The Gossip)

Preste Atenção!

Avisei você, você não acreditou em mim
Avisei você, agora você foi pego

Há algumas pessoas que você não pode confiar
Algumas pessoas que jogam muita conversa fora
Pegue meu conselho e preste atenção!
Não seja um bobo como o resto de nós
Agora preste atenção!

Ooooooh no playground
Você aprendeu muito e agora preste atenção!
Agora junte-se aqui agora
Preste atenção!
Agora junte-se aqui agora
Preste atenção!
1,2,3 tome de mim
3, 4 muita bagunça vai acontecer
4, 5 aprenda certo, a primeira vez
Conte comigo agora
1,2,3 tome de mim
3, 4 muita bagunça vai acontecer
4, 5 aprenda certo, a primeira vez
Conte comigo agora

Todo mundo conhece alguém assim
Que pega emprestado dinheiro e não te paga de volta
Eles vão falar sobre isso ao primeiro sinal
Mentir sobre isso na sua cara quando eles te pegarem
Há algumas pessoas que você simplesmente não pode confiar
Algumas pessoas jogam muita conversa fora
Pegue meu conselho e preste atenção!
Não seja um bobo como o resto de nós
Agora preste atenção!

sábado, 2 de agosto de 2008

Texto: Redação de aluna da Universidade Federal de Pernambuco*

Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador. Um substantivo masculino, com um aspecto plural, com alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. E o artigo era bem definido, feminino, singular: era ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal.

Era ingênua, silábica, um pouco átona, até ao contrário dele: um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanáticos por leituras e filmes ortográficos. O substantivo gostou dessa situação: os dois sozinhos, num lugar sem ninguém ver e ouvir. E sem perder essa oportunidade, começou a se insinuar, a perguntar, a conversar.

O artigo feminino deixou as reticências de lado, e permitiu esse pequeno índice. De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro: ótimo, pensou o substantivo, mais um bom motivo para provocar alguns sinônimos. Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeça a se movimentar: só que em vez de descer, sobe e pára justamente no andar do substantivo. Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela em seu aposto.

Ligou o fonema, e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, bem suave e gostosa. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela. Ficaram conversando, sentados num vocativo, quando ele começou outra vez a se insinuar.

Ela foi deixando, ele foi usando seu forte adjunto adverbial, e rapidamente chegaram a um imperativo, todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo direto.

Começaram a se aproximar, ela tremendo de vocabulário, e ele sentindo seu ditongo crescente: se abraçaram, numa pontuação tão minúscula, que nem um período simples passaria entre os dois. Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula; ele não perdeu o ritmo e sugeriu uma ou outra soletrada em seu apóstrofo. É claro que ela se deixou levar por essas palavras, estava totalmente oxítona às vontades dele, e foram para o comum de dois gêneros.

Ela totalmente voz passiva, ele voz ativa. Entre beijos, carícias, parônimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais: ficaram uns minutos nessa próclise, e ele, com todo o seu predicativo do objeto, ia tomando conta.

Estavam na posição de primeira e segunda pessoa do singular, ela era um perfeito agente da passiva, ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular. Nisso a porta abriu repentinamente. Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo, e entrou dando conjunções e adjetivos nos dois, que se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas. Mas ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tônica, ou melhor, subtônica, o verbo auxiliar diminuiu seus advérbios e declarou o seu particípio na história.

Os dois se olharam, e viram que isso era melhor do que uma metáfora por todo o edifício. O verbo auxiliar se entusiasmou e mostrou o seu adjunto adnominal. Que loucura, minha gente. Aquilo não era nem comparativo: era um superlativo absoluto. Foi se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado para seus objetos. Foi chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo, propondo claramente uma mesóclise-a-trois. Só que as condições eram estas: enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria ao gerúndio do substantivo, e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino.

O substantivo, vendo que poderia se transformar num artigo indefinido depois dessa, pensando em seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na história: agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, jogou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva.


* Não tenho informações do título e da autora do texto. Este texto é uma redação feita por uma aluna da UFPE - Universidade Federal de Pernambuco (Recife), que venceu um concurso interno promovido pelo professor titular da cadeira de Gramática Portuguesa.